Os integrantes da Cia do Abração optaram, ao criar esse espetáculo, pelo metateatro. Quatro idosos contadores de histórias passam o tempo a encenar as peças escritas por Sir Milkshakespeare. Nesse caso, a tarefa é a de encenar Sonho, e para isso utilizam elementos específicos, tais como sapatos, meia, carteira, gravata borboleta, um frasco de talco, um guarda-chuvas, etc. O espaço original, composto de pequenos armários com prateleirase gavetas, é transformado rapidamente no mágico bosque onde várias peripécias se desencadeiam.Uma boa parte do público infantil está sentado no chão, diante do palco do SESC Thermas, atentos ao desenvolvimento da trama. Apesar da falta de acústica do espaço e de algumas interferências sonoras externas, o espetáculo cumpre com limpeza e economia de meios a sua função lúdica e de entretenimento. De qualquer forma, uma maior proximidade com o espectador poderia permitir uma qualidade maior de relação e de recepção. Uma proximidade maior teria, por exemplo, valorizado a boa opção de representar as personagens utilizando objetos. Além disso, a estrutura de palco italiano nesse caso, elevada e separada do público, funciona aqui como um empecilho perceptível. Um espaço estruturado de maneira diversa, em forma de arena talvez, seria mais adequado para a produção de uma atmosfera onírica, que enriqueceria por sua vez o espetáculo e a performance dos atores. Tais aspectos, no entanto, envolvem não a confecção do espetáculo em si, mas seus modos de veiculação e recepção, que devem ser igualmente considerados. De fato, não é somente a iluminação, a sonoridade, a cenografia, e os figurinos que definem a qualidade de um espetáculo. A atuação é um elemento central, e para que ela se dê de maneira eficaz a relação espacial com o espectador deve ser cuidada caso por caso. Como sabemos hoje, cada espetáculo pede um tipo de espaço e o teatro infantil não está isento de tal processo.
Fonte: Matteo Bonfitto – ator, diretor e pesquisador teatral convidado pelo Fentepp
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